Podridão

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Sentia-se podre por dentro, cansada do tempo e dos sorrisos pragmáticos. Os cabelos acobreados e encardidos estavam agora, esparramados desleixadamente pelo chão igualmente sujo, os olhos desfocados encaravam sem esperança um ponto qualquer no horizonte e a tez de veludo antes tão pálida e translucida transformava-se, com o tempo, em um amarelo doente, quase tão doente quanto a garota que possuía tais características.

Ora, que lastimável presença era aquela, afinal o que pensariam da menina prodígio? O que pensariam da garota dos olhos de seus pais, garota qual seus pais faziam questão de se gabar sobre? As melhores notas, os melhores exemplos e o melhor sorriso, mal sabiam eles que a pequena chorava por dentro a cada novo sorriso que brotava em seu rosto, quase que automaticamente.

Não haviam motivos para chorar, haviam?

Sua vontade era jogar tudo para o ar, como os seus amigos fizeram á muito tempo, usar as roupas que quisesse se comportar da maneira que quisesse, mas não podia, tinha um papel á cumprir, falas pré coordenadas e uma vida regida á mão de ferro, seu destino estava traçado, afinal como muitos diziam, ela tinha um grande futuro pela frente, um futuro que não incluía nem mesmo seus sonhos mais singelos.

O estrago havia sido feito, seu próprio personagem á havia consumido e a asfixiava com as mãos calejadas e cheias de feridas, fazendo com que sua mente embaralhasse e esquece-se seus preciosos sonhos, não havia mais volta para ser oque era, ela não era mais nada e aquele eu tão sonhador já não existia mais, apenas oque existia agora era um fantoche e seu coração rachado.


Atenciosamente, Julia.

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