Eu me lembro de quando nos conhecemos. Chovia forte e eu
havia brigado com minha irmã. Com eu não queria ficar sem fazer nada no
intervalo eu corri para a biblioteca que mesmo com a chuva estava aberta.
Alguns baldes se encontravam espalhados para lá e para cá por causa das
goteiras. Eu vi você no canto da sala lendo um mangá que eu não me lembrava o
nome. Senti uma vontade enorme de ir falar com você, mas eu era tímida demais
para isso. Me sentei na mesa ao lado da sua e comecei a desenhar.
Estávamos apenas nós dois na companhia da bibliotecária.
Você se levantou para ir pegar alguma coisa na sua bolsa e viu o que eu
desenhava. Se aproximou e elogiou meu desenho. Eu agradeci. Você começou com as
perguntas idiotas que sempre fazem. “Você desenha mesmo ou está desenhando por
cima” e “faz um desenho meu” e coisas do gênero. Enquanto me observava desenhar
você devorava um pacote de biscoitos, o que era proibido de se fazer na
biblioteca. Eu lembro de você sorrindo me perguntando se eu queria uma. Eu me
lembro de ter negado e lembro de você ter perguntado o meu nome. A
bibliotecária nos repreendeu por estarmos falando tão alto. Você fez uma careta
que ela não viu. Ficamos conversando sobre coisas idiotas e então o sinal
bateu.
Na sala de aula eu ficava pensando em como você era bonito e
que aquela conversa provavelmente não se repetiria novamente. Eu estava muito errada sobre a ultima parte.
Quando deu o horário de ir embora uma chuva forte começou e
eu havia esquecido meu precioso guarda-chuva. Estava tentada a ligar para minha
mãe já que não queria correr até o ponto debaixo daquele toró, mas no meio
daquele bando de adolescentes exalando hormônios pelos poros eu vi sua
cabeleira loira acompanhada da altura fora do normal. Você deixou que eu me
acomodasse debaixo do guarda-chuva com você e então subimos no mesmo ônibus e a
conversa simplesmente fluía. Quando o assunto acabava você sempre começava
outro.
Os momentos começaram a ser rotineiros, sempre pegávamos o
ônibus juntos e as vezes eu largava minhas amigas para ficar com você e seus
amigos e as vezes era você quem abandonava os colegas para jogar conversa fora
comigo e com as meninas. Sem perceber você já havia virado assunto principal das
conversas que eu tinha com minha melhor amiga.
Um dia você me chamou para sair, mas você disse que queria
sair sozinho comigo. Sem amigos idiotas ou sobrinhos birrentos por perto. Eu
sorri e é obvio que aceitei. Mas eu nunca imaginei que você fosse me levar para
um lugar tão bonito, calmo. Aquele lugar era definitivamente magico,
encantador, simplesmente lindo. E hoje, mesmo depois de você ter partido, eu
continuava visitando aquele parque. Mesmo que você não estivesse ali comigo.
Você estava nas melhores memórias que eu tive daquele lugar. E enquanto eu
continuasse visitando aquele lugar, você continuaria vivo em minha mente e em
meu coração.
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