Cinzento.

Minha cabeça doía e meu peito também. Estar encolhida em posição fatal naquela cama não parecia estar ajudando em nada. Uma chuva torrencial caia lá fora e o frio era de congelar até os ossos. Gostaria de poder continuar sob a minha grossa coberta de bolinhas, porém eu tinha que tocar minha vida adiante, ou seja, trabalhar.

Me arrastei até o banheiro resistindo a tentação de levar meu cobertor comigo. Os meus pés descalços sofriam em contato com o chão frio, mas eu não sabia onde estavam meus chinelos. O jeito era encarar o chão gelado até o banheiro sem eles.

A imagem que o espelho trincado do banheiro refletia chegava a dar medo. Um dia eu já fui uma mulher muito bonita. Mas agora eu sou apenas uma mulher cansada, com muitas orelhas, rugas demais para a idade e acima de tudo inútil. Ok, chega de reclamar de minha vidinha cinzenta.

Um banho quente sempre é algo bom. O problema é que nunca é seguro para o nosso bolso ficar tempo demais de baixo da água. Enrolada em toalhas felpudas eu volto para o meu quarto quase que correndo para alcançar logo minhas roupas quentinhas. Depois disso eu comi qualquer coisa instantânea e fui trabalhar. Não me importando em trancar a porta. Afinal, aquele bairro era pobre demais para ser assaltado.

Depois de um dia de trabalho chato e estressante eu volto para casa. Tomo um banho quente, como, assisto um pouco de TV e então vou dormir. Na manhã seguinte começa tudo de novo. Tudo cinzento como sempre.

Autora: Larina